Com número de vagas limitado, participantes irão conhecer história negra em pontos da Liberdade e do Glicério, no centro da capital
A Comissão da Verdade Sobre a Escravidão Negra no Brasil da OAB SP (Ordem dos Advogados do Brasil seção São Paulo) promove, neste sábado (13/05), a 1ª Caminhada Educativa “Chão dos Nossos Ancentrais”, em pontos históricos negros, na região central da capital paulista. O objetivo do evento é evitar o apagamento da memória histórica negra, como o local onde funcionou a primeira escola de samba, a igreja que acolheu os perseguidos pelo regime escravista, o local onde eram cumpridas penas de morte contra negros escravizados, e muitos outros.
Para a presidente da Comissão organizadora do evento, Rosana Rufino, a caminhada pelos diversos pontos da região central de São Paulo irá mostrar aos participantes uma parte da história que não pode ser esquecida. “Conhecer e divulgar a existência dos territórios negros na cidade de São Paulo por muito tempo invisibilizados é um compromisso da Comissão da Verdade sobre a Escravidão Negra no Brasil da OAB SP”, afirma a presidente.
“A iniciativa da primeira caminhada educativa, “Chão dos Nossos Ancestrais” – idealizada pela diretoria executiva da comissão em parceria com institutos e coletivos negros – visa a preservação patrimonial destes locais e, acima de tudo, proporciona um resgate histórico da memória, da cultura e das contribuições da população negra para a construção da nossa sociedade”, disse Rosana Rufino.
No dia do evento, os inscritos serão recebidos para o credenciamento e café da manhã na sede da OAB SP (Rua Maria Paula, 35 – Bela Vista). Em seguida, será realizada uma homenagem aos líderes abolicionistas com a leitura de um manifesto. E às 10h, se iniciará a caminhada por diversos pontos históricos na região central da capital. O evento é gratuito e possui um número de vagas limitado.
Roteiro
08h30 Credenciamento / Café da manhã na Sede Secional OAB SP (Rua Maria Paula, 35)
09h30 Homenagem aos líderes abolicionistas
10h Saída da Sede Seccional
Serviço
1ª Caminhada educativa “Chão dos Nossos Ancentrais”
Data: 13/05/2023
Horário: a partir das 8h30
Endereço: Rua Maria Paula, 35 – Bela Vista
Inscrições: https://www.sympla.com.br/evento/i-caminhada-educativa-cevenb-chao-dos-nosso-anceztrais/1982344
- Praça João Mendes: antigo Largo de São Gonçalo
Aqui a irmandade negra de Nossa Senhora da Conceição e São Gonçalo Garcia ergueu, em 1757, uma capela até hoje conhecida como Igreja de São Gonçalo. Próximo a ela ficava a Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, que durante muito tempo funcionou como refúgio de pessoas perseguidas pelo regime escravista, e que nos últimos anos do Império foi reduto de abolicionistas. Em 1791, três décadas e meia depois da construção da Capela, foi inaugurada nesse mesmo largo a Casa da Câmara e Cadeia, mecanismo estratégico de criminalização das pessoas escravizadas. Recentemente ficou provado que o negro arquiteto Joaquim Pinto de Oliveira Tebas foi sepultado nessa igreja, em janeiro de 1811.
- Largo Sete de Setembro: antigo Largo do Pelourinho
O nome “Sete de Setembro”, homenagem ao dia da proclamação da Independência do Brasil, foi dado no dia 28 de novembro de 1865. Antes disso o lugar era chamado de Largo do Pelourinho, onde eram castigadas as pessoas criminalizadas pela escravidão.
- Rua da Glória, 132: antigo endereço da Escola de Samba Paulistano da Glória
O projeto inicial de dona Augusta Geralda, mãe do compositor Geraldo Filme, era fundar, em plena década de 1940, uma associação de empregadas domésticas, entidade de classe que não vingou, mas que se tornou cordão carnavalesco e salão de dança, não por acaso conhecido, até os anos 1990, como “baile das empregadas domésticas”. Em 1974, apenas dois anos depois de iniciar a sua trajetória como escola de samba, o Paulistano já conquistava o vice-campeonato do carnaval com o enredo Praça da Sé, sua lenda, seu passado, seu presente, e com o samba Tebas, o escravo, composto por Geraldo Filme. Seu último desfie aconteceu em 1984, com o enredo São Paulo, a esquina do mundo.
- Praça da Liberdade: antigo Largo da Forca
Aqui era executada a pena de morte sob o regime escravista em São Paulo. E a execução mais famosa desse lugar foi a do cabo negro Francisco José das Chagas, o Chaguinhas, no dia 20 de setembro de 1821, “acabado de assassinar” depois de três tentativas frustradas de enforcamento, nas palavras do padre Antônio Diogo Feijó, então futuro regente do Império, testemunha ocular dos acontecimentos.
- Beco dos Aflitos
Trata-se da alameda que, cortando ao meio o antigo Cemitério dos Aflitos, que funcionou por 83 anos, de 1775 a 1858, leva à Capela dos Aflitos, edificação de taipa que documenta não só os acontecimentos daquela época, como os seus desdobramentos na atualidade.
- Capela Nossa Senhora dos Aflitos
Construída no final do século XVIII, era a capela responsável por encomendar as mortes de escravizados e pobres que eram enterrados no Cemitério dos Aflitos, o primeiro cemitério público da capital, no bairro da Liberdade, onde eram enterrados corpos de escravos entre os séculos XVIII e XIX. Na Capela Nossa Senhora dos Aflitos e na Igreja Nossa Senhora das Almas dos Enforcados que foi desenvolvido o culto a Chaguinhas, soldado executado após uma revolta em Santos, no ano de 1821.
- Frente Negra Brasileira
Foi uma das mais importantes entidades do movimento negro brasileiro na primeira metade do século XX. Criada em 1931, durante o governo Vargas, reuniu muitos milhares de membros, tendo filiais em vários estados, defendendo os interesses da comunidade negra, pregando o seu aperfeiçoamento moral e intelectual e lutando contra o racismo e a desigualdade. Lançou um ativo jornal, A Voz da Raça, e atraiu algumas das principais lideranças negras do período.
- Festa de Santa Cruz
Festa realizada no dia 03 de maio na praça da Liberdade e na Rua Espírita. Manifestação sincrética que atraia a população negra da cidade e era um importante espaço de sociabilidade. A Festa de Santa Cruz era realizada junto à Igreja Santa Cruz das Almas dos Enfocados, na praça da Liberdade, antigo Campo da Forca, promovida por uma irmandade que existia em torno da igreja. A praça era tomada no dia 03 de maio por várias apresentações musicais ligadas ao samba. Depois o cortejo descia até o bairro do Glicério.
- Bloco das Baianas Teimosas
Bloco carnavalesco da década de 1930 em que homens se vestiam de mulheres durante as festividades e era um dos mais aguardados pelo público do bairro devido ao seu tom jocoso. Também está destacada a encruzilhada das cinco esquinas onde a escola de samba Lavapés fazia seu último ensaio e montagem do desfile.
- Casa da Madrinha Eunice
Locais onde Madrinha Eunice viveu durante parte de sua vida, foi sede da escola de samba Lavapés por várias décadas.
- Encruzilhada das cinco esquinas
Largo que se forma no encontro de cinco ruas com cinco esquinas. São elas: Rua do Lavapés, Rua do Glicério, Rua Sinimbu, Rua Tamandaré e Rua da Glória. Local de ensaio e desfiles da escola de samba Lavapés e local onde eram realizadas cerimônias de religiões de matrizes afro brasileiras como umbanda, quimbanda e candomblé.
- Clube Paulistano da Glória
Clube fundado na década de 1930 por Augusta Geralda, mãe de Geraldo Filme, como uma espécie de Sociedade Beneficente e Clube e desempenhou um importante papel em defesa das empregadas domésticas, sendo como um sindicato embrionário, funcionando ao mesmo tempo como local de sociabilidade e de luta classista contra abusos de patrões, demissões sem justa causa e não pagamento de salários. A associação de empregadas domésticas Paulistano da Glória, fundada por Dona Augusta Geralda, foi inspirada na primeira Associação de Trabalhadores Domésticas do país, fundada em 1936 por Laudelina de Campos Melo, na cidade de Santos. Laudelina era uma doméstica negra filiada ao PCB (Partido Comunista Brasileiro) e que participou também da fundação da Frente Negra Brasileira na cidade de Santos.
- Escola de samba Paulistano da Glória
Escola de samba fundada por Geraldo Filme na década de 1970, o nome foi inspirado no clube fundado por sua mãe. A escola de samba funcionou até a década de 1980.
- Centro Cívico Palmares
Principal espaço de sociabilidade de negros alfabetizados e com empregos formais do bairro da Liberdade e Glicério. Segundo Petrônio Domingues (2003), a entidade obteve êxito em seus enfrentamentos políticos, como a campanha para que a população negra tivesse acesso e fosse elegível para ingresso na Guarda Municipal, quando os negros passaram a ser aceitos como guardas em São Paulo.
- Rancho Príncipe Negro
Rancho carnavalesco que desfilou no bairro do Glicério e conservava várias características dos cordões, como desfile em cortejo, corte carnavalesca e uso de instrumentos de sopro e cordas.
- Figueira centenária
Árvore (Ficus-elatica ou “falsa seringueira”) de grandes proporções e possivelmente centenária, localizada na encruzilhada das ruas da Glória, Conselheiro Furtado e São Joaquim. Local de chegada e descanso da antiga Estrada de Santos para os escravos de ganho, soldados, caixeiros viajantes e tropeiros no século XIX e XX e localizada logo depois do córrego do Lavapés, local em que os viajantes paravam para lavar seus pés antes de entrar na “cidade alta”, nas igrejas do centro e na Sé.
- Rua Espírita
Local famoso da Baixada do Glicério que adquiriu tal nome em função de Pai Baduíra ou Batuíra que era um homem santo/ sacerdote da região conhecido como Pai de Santo, Babalorixá, mas também como um dos grandes nomes do espiritismo brasileiro. Há indícios também que muitas pessoas da alta sociedade do XIX desciam para a rua espírita para jogar búzios ou receber atendimento mediúnico. Baduira também recebia o espírito de Zarabinda um escravo que teria “morrido no tronco”. A rua também é adjacente ao Morro do Piolho, local histórico do futebol de Várzea e mirante.
