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Com palestra magna de Conceição Evaristo, Prêmio Benedicto Galvão celebra defesa da equidade pela advocacia

By 28 de novembro de 2023No Comments

Entrega da 12ª edição do prêmio marcou o encerramento do 2º Congresso Estadual da Advocacia Negra, promovido pela Comissão de Igualdade Racial da OAB SP

 

Nesta quarta-feira (22), a Comissão de Igualdade Racial da OAB SP (Ordem dos Advogados do Brasil Seção São Paulo) encerrou o 2º Congresso Estadual da Advocacia Negra celebrando a entrega do 12º Prêmio Benedicto Galvão. A honraria enaltece o trabalho de pessoas que contribuem pela busca da equidade e pelo enfrentamento da discriminação.

Com a presença ilustre da escritora Conceição Evaristo, o Prêmio foi entregue aos vencedores Cláudio Lúcio Claudino, Lenny Blue de Oliveira e Keila Maria Candido. 

A edição deste ano teve como foco notar figuras que já atingiram a melhor idade acima dos 60 anos, como forma de prestigiar os ancestrais que iniciaram o caminho de desenvolvimento e progresso social, econômico e intelectual da população negra. De cinco finalistas, dois dos premiados foram selecionados por meio de votação popular, e um por indicação direta da Comissão de Igualdade Racial da OAB SP.

Irapuã Santana, presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB SP

 

“Envelhecer é uma dádiva, uma oportunidade de construir e passar a tradição para frente. E nós, enquanto sociedade, precisamos saudar, honrar e festejar este grupo tão especial que tanto fez e segue fazendo pelo país”, compartilha Irapuã Santana, presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB SP.

Dione Almeida dividiu a plenária com Conceição Evaristo

Para Dione Almeida, diretora secretária-geral adjunta da OAB SP, a ocasião não poderia ser mais significativa: “Hoje é dia de celebrar Conceição, hoje é dia de celebrar os nossos pais, nossos avós, e todos aqueles que trabalharam muito para que nós estivéssemos aqui, em condições de dignidade e respeito. Tenho absoluta certeza de que nós somos o sonho dos nossos ancestrais e estamos seguindo passos que vêm de longe. E adianto que esses passos são imparáveis se nós continuarmos juntos, irmanados em torno de uma advocacia negra e uma advocacia paulista mais unida, mais forte e mais respeitada”.

Ancestralidade

Em diálogo com o foco das reflexões e celebrações que a Comissão de Igualdade Racial elegeu para este mês da Consciência Negra, a OAB SP teve a honra de contar com a presença da professora e escritora Conceição Evaristo. Uma das principais referências intelectuais brasileiras, Evaristo apresentou uma palestra magna na cerimônia, abordando temas como ancestralidade, memória, longevidade e a passagem do tempo. 

Recuperando parte da história da diáspora africana, a professora destacou a importância do imaginário coletivo na construção da identidade dos povos afrodescendentes que não tiveram contato direto com os elementos culturais originários por conta das condições dos processos de colonização. “A ancestralidade está em nós muitas vezes até de forma imperceptível. Depois, quando a gente para pra analisar e pensar em algumas atitudes nossas, é que nós percebemos que a ancestralidade está viva, e que essa ancestralidade é que nos sustenta”, refletiu Conceição Evaristo.

A professora também abordou o envelhecimento no Brasil, considerando a falta de políticas públicas para a população idosa e salientando que muitas pessoas das classes mais populares não desfrutam da velhice com qualidade de vida, em direitos básicos como moradia segura, alimentação garantida, assistência médica, aposentadoria digna e lazer. “Será que a longevidade pode ser vivida plenamente como conquista e motivo de celebração?”, questiona Evaristo, destacando que a qualidade de vida no envelhecimento é  de responsabilidade de todos, mas principalmente um dever do Estado.

Por fim, Conceição Evaristo falou sobre o reconhecimento tardio da contribuição de artistas, intelectuais e militantes negros no Brasil, e a relação dessa temporalidade com as novas gerações: “O que eu tenho afirmado sempre é que o importante não é a gente ser a primeira, o importante é a abrir perspectivas. Todos nós aqui abrimos perspectivas para uma juventude que está aí, e sem sombra de dúvidas, nós vamos passar o bastão”.

Irapuã Santana avalia o significado da participação da professora na ocasião: “Chamou minha atenção o impacto nas pessoas. A simples presença da professora Conceição Evaristo fez o auditório chorar. Fica a reflexão”, avalia.

 

Prêmio Benedicto Galvão

Criado por iniciativa da Comissão de Igualdade Racial da OAB SP, o Prêmio faz referência à memória do advogado Benedicto Galvão. Nascido no interior do estado, migrou para a capital, formando-se na escola complementar anexa à Escola Normal da Praça da República. Trabalhou como auxiliar de escritório e professor nos bairros paulistanos da Bela Vista e Liberdade. Em 1907, diplomou-se pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, passando a advogar no escritório de Alfredo e Ernesto Pujol. Presidiu a OAB São Paulo na gestão de 1940 a 1941, durante o afastamento do presidente da época, Noé Azevedo, sendo a primeira pessoa negra a exercer o cargo.

Benedicto Galvão faleceu em 11 de julho de 1943, e a memória deste importante advogado permanece, emprestando seu nome à honraria concedida àqueles que atuam no combate ao racismo, visando a equidade, a cidadania e a preservação da democracia. 

 

Saiba mais sobre os vencedores da 12ª edição do Prêmio Benedicto Galvão:

Claudio Lúcio Claudino é advogado, vice-presidente da Comissão da Igualdade Racial e vice-presidente da Comissão da Verdade sobre a Escravidão da OAB de Araraquara. Também é ativista dos movimentos negros desde 1977, e contribuiu para a compilação do livro “A História Comprovada – Fatos Reais e as Dores da Escravização Araraquarense, publicado em 2023.

Keila Maria Candido foi professora substituta da Rede de Ensino Estadual, representante da Comissão Antidiscriminatória do Negro na OAB São Carlos, coordenadora da entidade Acorde e autora e coordenadora do I Programa da Mulher Vítima de Violência Doméstica e da I Seção de Combate ao Racismo e Discriminação no Executivo de São Carlos. Keila também atuou como secretária geral de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade da UFScar, e foi coordenadora da primeira Comissão de Verificação da Autodeclaração Raça/Cor e Identificação da Pessoa com Deficiência da universidade.

Lenny Blue de Oliveira tem 70 anos e é mãe, avó, advogada, escritora, ativista racial e feminista. É co-fundadora do MNU (Movimento Negro Unificado), atual vice-presidente da Comissão de Verdade e Memória da Escravidão Negra da OAB-SP e membra do IANB (Instituto Advocacia Negra Brasileira). Lenny também é marchante da Marcha das Mulheres Negras São Paulo, integrante do bloco afro Ilú Obá de Min e pesquisadora interseccional com publicações sobre envelhecimento do povo negro, entre outros. Praticante de Afro Chi.

 

2º Congresso Estadual da Advocacia Negra

Como parte das atividades no mês da Consciência Negra, a OAB SP promoveu, nos dias 18, 21 e 22 de novembro, o 2º Congresso Estadual da Advocacia Negra. Sob o tema “Kindezi – Reverenciado em Vida”, o evento dialogou com a 12ª edição do Prêmio Benedicto Galvão, tendo por objetivo visibilizar as pessoas idosas da comunidade. 

As homenagens e reflexões se intensificaram, ao longo do Congresso, em palestras realizadas no dia 21 sobre aspectos ligados aos obstáculos enfrentados por profissionais negras e negros debatendo questões jurídicas complexas de relevo na atualidade da advocacia.

O presidente da Comissão de Diversidade Racial da OAB SP, Irapuã Santana, reflete sobre os efeitos do Congresso para a Secional, reforçando que o ideal é que as atividades da comunidade negra da OAB SP sejam apreciados por toda a advocacia paulista, independente de sua identidade racial: “Nós não queremos falar apenas sobre racismo, nem falar apenas para a comunidade negra. Infelizmente ainda tivemos poucas pessoas brancas entre o público, apesar do conteúdo de qualidade incontestável. Isso mostra o tamanho do trabalho que a Comissão tem pela frente.”

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