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Advogadas explicam como estruturar um canal de denúncias para lei de assédio no ambiente de trabalho

By 27 de outubro de 2023outubro 30th, 2023No Comments
compliance na fenalaw

Painel com especialistas aconteceu durante a Fenalaw 2023, maior evento para o mercado jurídico da América Latina

Uma área de Compliance bem estruturada desempenha papel importante para o sucesso de uma empresa, além de atuar na proteção dos direitos e da dignidade de seus colaboradores. Neste sentido, a figura do advogado é fundamental.

A Fenalaw 2023, maior evento para o mercado jurídico da América Latina, dedicou um dia inteiro de programação de um de seus auditórios para a apresentação de palestras ligadas ao tema. Entre estas, o painel Como Estruturar o Canal de Denúncias para Lei de Assédio no Ambiente de Trabalho para Proteção de Mulheres, ministrado pela advogada especialista em políticas antidiscriminatórias Luana Pereira da Costa, pela advogada e gerente de compliance da Unicred, Aline Damasio Goulart, e pela presidente da Comissão Multidisciplinar da Associação Brasileira de Advogados (ABA) Niterói/RJ, Viviane Pires.

As profissionais mencionaram a lei nº 14.457/2022, que institui o Programa Emprega + Mulheres. “O texto da lei traz a obrigatoriedade de tratar os temas de violência, assédio sexual e outras formas de discriminação de denúncias contra a mulher no ambiente de trabalho, além da obrigação de se criar um canal para o acolhimento das denúncias”, explicou Luana.

Ela opinou que, para estruturar um canal de denúncias de forma eficaz, o primeiro ponto que deve ser endereçado é a conscientização e a desnaturalização de condutas assediadoras.

“Infelizmente, em alguns ambientes existem condutas que são naturalizadas. Precisamos trazer essa conscientização para que as mulheres não apenas saibam identificar em si a ocorrência de violência, como em outras colegas”.

Além disso, a advogada disse que, durante a apuração da denúncia, a área de compliance deve evitar ao máximo qualquer tipo de viés que culpabilize a vítima. “Temos que compreender e acolher. A não revitimização também é importante, devemos tomar cuidado para a vítima de violência não ter que reviver aquela dor relatando a situação várias vezes. A pessoa que está fazendo a denúncia de violência está em situação de vulnerabilidade, ela precisa ser acolhida e não inquirida”, concluiu.

Em sua fala, Aline Damasio Goulart trouxe dados para reforçar a importância de se debater o tema. “Em 2021, o Tribunal Superior do Trabalho apontou mais de 52 mil casos de assédio moral. A gente tem um número que nos faz refletir bastante e, obviamente, quando falamos de interseccionalidade, sabemos que as que mais sofrem assédio são as mulheres pretas. É um problema de gênero, raça e classe social.”

A gerente de compliance apresentou alguns passos adotados por sua empresa para a implementação efetiva de um canal de violência contra as mulheres. “O primeiro é a sensibilização. Nós iniciamos um trabalho de sensibilização com um programa de diversidade e inclusão que tinha a frente de gênero como uma das prioritárias. É preciso preparar o público para ouvir falar de assédio moral e sexual. O segundo ponto é a criação de um canal de denúncias externo, que dá mais segurança ao denunciante de que o IP não seja identificado, que funcione 24 horas por dia em todos os dias da semana e etc. No nosso caso, o canal prevê o atendimento feito exclusivamente por mulheres psicólogas.”

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Aline também citou a necessidade de criação de uma política de consequências. “Os números mostram que, muitas vezes, as mulheres não denunciam pois têm certeza da impunidade de quem cometeu o fato. E, por fim, o outro passo importante é ter um processo de investigação corporativa robusto. Além de ter, dentro da instituição, uma investigação com profissionais qualificados, nós recomendamos que um escritório terceirizado faça a apuração e as entrevistas. Isso porque, muitas vezes, a mulher se sente envergonhada de relatar o assunto para um colega de trabalho”.

Presidente da Comissão Multidisciplinar da ABA Niterói/RJ, Viviane Pires concordou com a colega de painel. “É muito comum que as entrevistas sejam feitas pelo RH, mas o constrangimento que isso gera é muito grande. Ter o parecer isento de um escritório vai fazer muita diferença”.

A advogada destacou que a área de compliance e, em especial, a implementação de um canal de denúncias, abarca um nicho de atuação crescente e relevante para a advocacia.

“Uma pesquisa da KPMG mostra que 95% das empresas já possuem um canal de denúncias e o motivo que as leva a isso é ter um compliance estruturado. Este é um trabalho em que os advogados podem agregar muito. Temos que ter o relato da denúncia registrado por escrito, dar a oportunidade de o denunciado se defender, enfim… Essa é uma visão que só o advogado traz.”

Por fim, Viviane ressaltou que é importante alinhar expectativas com a denunciante em relação ao tempo de apuração. “Se a gente, quando se depara com algum imprevisto pequeno em nosso dia a dia, já quer uma resolução imediata, o que dirá de quem procura um canal de denúncias. Imagine o nível de aflição desta pessoa. A melhor forma de não perder a confiança de quem denunciou é alinhar o tempo médio de apuração.”

“Essa confiança se conquista com o tempo, com diálogo e com treinamentos. Quando você oferece treinamento para explicar o funcionamento do fluxo das denúncias, elas entendem. Ao fim e a cabo, a responsabilidade do compliance é não permitir que aquela situação de assédio ou violência continue, independente do que será feito ao denunciado”, concluiu.

A Ordem dos Advogados do Brasil seção São Paulo (OAB SP) participa da Fenalaw 2023 com um estande de vendas que reúne todas as vantagens do Universo OAB SP – composto pela Ordem paulista e suas subseções, Caixa de Assistência dos Advogados de São Paulo (CAASP), Escola Superior da Advocacia (ESA) e OABPrev-SP.

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O principal evento jurídico da América Latina acontece entre os dias 25 e 27 de outubro no Centro de Convenções Frei Caneca, na capital paulista, reunindo profissionais, estudantes e empresas do setor, com o intuito de discutir tendências, inovações e tecnologia no exercício jurídico.

Advocacia sem Assédio na OAB SP

Desde 2022, a OAB SP oferece o canal Advocacia sem Assédio, para que as advogadas paulistas possam fazer as denúncias de maneira segura, com privacidade, e para que os casos sejam apurados com extremo rigor.

Para a estruturação do projeto no Estado, a Ordem contou com o auxílio da Deloitte, que construiu um canal de denúncias dentro de um ambiente de máxima segurança. “Tivemos a preocupação de ter uma empresa com credibilidade, para a construção de um sistema que tenha total proteção. As mulheres precisam acreditar nessa infraestrutura para de fato denunciarem”, afirmou Patricia Vanzolini, presidente da OAB SP. 

O programa Advocacia sem Assédio da OAB SP conta ainda as parceiras: o projeto Justiceiras, que oferece orientação jurídica, psicológica, médica, rede de apoio e acolhimento gratuita e on-line a vítimas de violência doméstica, e o movimento Me Too Brasil, que ajuda vítimas de violência sexual a romperem o silêncio. “Buscamos projetos que tenham a expertise no tratamento das denúncias de violência doméstica, no acolhimento da mulher, na escuta, para que a pessoa que está denunciando seja absolutamente respeitada. É algo muito sensível, importante, de responsabilidade, por isso tomamos todos esses cuidados. Estamos dando um passo concreto, um avanço que veio para ficar”, destacou Patricia.

Para fazer uma denúncia, acesse o site: https://advsemassedio.org.br/