A presidente da Ordem dos Advogados do Brasil seção São Paulo (OAB SP), Patricia Vanzolini, visitou a 2ª Subseção da OAB SP na última quarta-feira (15). Na ocasião, ela foi recebida pelo presidente OAB Santos, Raphael Meirelles, e pelo diretor adjunto de Relações Institucionais, Cezar Hyppolito do Rego. Após conhecer a infraestrutura da Subseção, Patricia concedeu uma entrevista para o site da entidade; leia:
Disputar uma eleição histórica, como a da OAB SP, significa trabalhar pela classe?
Patricia: A OAB é uma instituição muito importante, com infraestrutura e de um potencial magnífico. Ao longo da minha vida, tanto como advogada, como professora, fui ficando muito incomodada de saber o quanto ela estava sendo subutilizada. Ela podia fazer muito mais do que estava fazendo, para ser mais reconhecida. Nos últimos anos, notei que a OAB se afastou muito da advocacia, perdendo espaço perante à sociedade e deixando de ser reconhecida como a instituição importante que ela é.
Diante de uma situação de desagrado, temos duas opções: simplesmente reclamar e virar as costas ou arregaçar as mangas e trabalhar. Aí, entendi que era a hora de arregaçar as mangas e trabalhar.
Também entendi que era a hora da OAB SP ter a primeira presidente mulher. Achei que eu tinha tanto uma história e uma equipe extremamente capacitada para esta empreitada e deixei que a advocacia paulista decidisse. Foi um pleito muito concorrido, muito disputado. Não sabia que iria ganhar.
Vim de uma chapa de oposição, que não ganhava um pleito da Secional de São Paulo há mais de 40 anos. Entendi que tinha as condições necessárias para representar a instituição e a advocacia paulista entendeu isso também: nossa chapa teve uma votação histórica dentro da Ordem, com 67 mil votos e cá estou eu, trabalhando pela entidade.
O que a OAB tem de melhor e onde pode melhorar?
Patricia: A OAB é a Organização da Sociedade Civil mais importante do Brasil. Primeiro, porque ela é a instituição de classe que tem a maior infraestrutura, entre todas. De longe, nenhuma entidade classista tem a infraestrutura que nós temos. Por exemplo, existe Casa do Médico ou Casa do Engenheiro como nós temos a Casa do Advogado no Estado de São Paulo, com mais de 250 unidades? Nós oferecemos um grau de amparo para nossos afiliados que é incomparável. Por outro lado, nós não temos um real de dinheiro público. Nós somos inteiramente sustentados com o dinheiro da própria advocacia.
Além de prestar um serviço classista, prestamos um serviço social inestimável: somos a maior entidade filantrópica do Brasil. Prestamos serviços de Assistência Judiciária, para mulheres vítimas de violência, para idosos, para crianças e adolescentes. Enfim, inúmeros serviços públicos, oferecidos gratuitamente, pois os gestores de Ordem e integrantes de comissões temáticas são voluntários.
No que ela precisa melhorar? A gestão interna da OAB acabou ficando muito “paquidérmica”, muito antiga, muito obsoleta. A Ordem foi crescendo, até chegar nesta estrutura que ela tem hoje para atender 450 mil advogados em São Paulo. Porém, sua gestão continuou obsoleta: não há informatização, não há digitalização dos processos, os fluxos são muito demorados. Então, a resposta para a própria advocacia e para as subseções, que não têm autonomia financeira, é muito burocratizada.
É preciso um choque de gestão, de informatização, modernização e transparência. Até porque nós gerimos dinheiro alheio. Então, devemos prestar contas e prestar serviços de qualidade. Penso que a OAB precisa melhorar muito em termos de governança e de representatividade social.
Ela estava muito apagada. Apagada na mídia, apagada na sociedade – falo isso do Conselho Federal e da própria Secional, que se envolveram com questões político-partidárias que contaminaram um pouco a imagem da Ordem. O partido da OAB tem que ser a advocacia. Nós temos que ter isenção para apontar os desmandos de qualquer governo, enfim, de esquerda, de direita, de centro. Por isso, não podemos ter vinculação político-partidária. A OAB acabou ficando muito preocupada só com os próprios gestores, seus interesses pessoais e não se abriu para a sociedade.
Qual o caminho para a revalorização da entidade?
Patricia: Temos que fazer a Ordem voltar à vida, a ser protagonista. E ela vem voltando a falar de coisas importantes, não apenas de sua política interna, de questões próprias.
Gostaria de deixar estes dois legados: primeiro, a modernização da gestão da OAB SP, que, no meu entender, nunca foi enfrentada; e a recolocação da Ordem nos cenários estadual e nacional, ou seja, a revalorização da Ordem, que é a revalorização da própria advocacia.
Quando o advogado vê uma Ordem forte, um presidente que se pronuncia, que é chamado pela imprensa, de forma apartidária, para se manifestar a respeito das coisas, ele sente que está tendo voz, está sendo ouvido e dignificado.
Gostaria que, ao final de nossa gestão, os advogados voltassem a ter orgulho da Ordem, voltassem a se sentir representados por ela.