
Entidade consolidou relatório com análises e propostas a problemas de moradia, zeladoria urbana, violência, trabalho, saúde, entre outros
A OAB SP, por meio de sua Comissão de Direitos Humanos (CDH), recebeu ontem (8) representantes de movimentos sociais e de secretarias municipais de São Paulo para entregar relatório com as propostas extraídas do evento “Encontro da OAB SP e População em Situação de Rua”, que ocorreu na sede da entidade, no dia 29 de abril.
Em uma iniciativa inédita, a OAB SP promoveu a escuta ativa das pessoas em situação de vulnerabilidade para desenvolver um trabalho com o reconhecimento da população de rua, a partir das demandas apontadas por elas. Por meio do Núcleo de Movimentos Sociais e de População em Situação de Rua, a CDH OAB SP tem atuado em conjunto com entidades da sociedade civil e religiosas, fóruns e entidades representativas do segmento, em busca da restauração do direito constitucional à dignidade da pessoa em situação de rua com a garantia de acesso à moradia digna, sem discriminação, com proteção dos direitos à vida, segurança pessoal, saúde, proteção do lar e da família.
Dos movimentos sociais, estiveram presentes na reunião: Robson César Correia de Mendonça, do Movimento Estadual da População em Situação de Rua; Anderson Lopes Miranda, Movimento Nacional de Luta em Defesa da População em Situação de Rua (MNLDPSR); Darcy da Silva Costa, do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR); Nazareth Cupertino, do Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH) e Associação Rede Rua; e Alderon Pereira da Costa, do Fórum de Defesa da População de Rua de São Paulo.
Pela prefeitura de São Paulo, compareceram: Carlos Bezerra Jr. e Décio Fernando de Matos, respectivamente secretário municipal e secretário-adjunto de Assistência e Desenvolvimento Social; João Siqueira de Farias, secretário de Habitação; Gisele Cacherik, coordenadora de Atenção Básica, da Secretaria de Saúde; Marcos dos Santos Queiroz e Regina Carla Inocêncio Andrade de Souza, respectivamente inspetor e coordenadora da Secretaria de Segurança Urbana.
A OAB SP foi representada por seu vice-presidente, Leonardo Sica; pela vice-presidente da CDH, Priscila Beltrame; pelo coordenador do Núcleo de Movimentos Sociais e da População em Situação de Rua da CDH, Rildo Marques; pela secretária-geral da Comissão, Alexandra Rodrigues, também responsável pela consolidação do relatório; e pelo conselheiro Secional e coordenador do Núcleo de Expediente da CDH, Claudio Cardoso.
Sica abriu a reunião destacando o peso e a relevância da entidade na discussão da sociedade civil com a esfera pública. Ele ainda elogiou o trabalho da Comissão e ressaltou a importância da participação de outros agentes para um diagnóstico plural sobre o tema.
“Nossa Comissão tem avaliado com atenção os problemas da população de rua e tem nos ajudado a abrir os olhos para o multifacetamento da questão”.
Ao longo do encontro, os representantes da sociedade civil e da prefeitura tiveram momentos de fala para pontuar suas demandas, expectativas, e ações que estão em andamento para solucionar e reduzir as dificuldades enfrentadas pelas pessoas em situação de vulnerabilidade.
Robson César Correia de Mendonça, do Movimento Estadual da População em Situação de Rua, pontuou que a habitação é a chave para a solução desse cenário. “A pessoa que não tem endereço fixo, não consegue um trabalho e fica impedida de fazer muitas coisas. O Estado impossibilita que o cidadão seja rentável quando se nega habitação. [Acredito que] em conjunto podemos chegar a uma solução. Gostaria de agradecer principalmente à OAB, que é o principal canal em defesa do debate para os direitos da população em situação de rua”, enfatizou. Darcy da Silva Costa, do MNPR, também levantou a questão da moradia, e que todas as secretarias, de forma intersetorial, têm de focar na questão da saída da rua, dando acesso à habitação.
Na sequência, Alexandra apresentou os principais pontos do relatório que contemplou análises e propostas para sete eixos: moradia; zeladoria urbana e a violência cotidiana; equipamentos de acolhimento; trabalho e geração de renda; acesso a programas de renda; articulação da Rede SUAS (Sistema Nacional de Informação do Sistema Único de Assistência Social); e saúde da população em situação de rua.
O coordenador-geral do MNLDPSR, Anderson Lopes Miranda, reforçou a essencialidade do diálogo para acabar com as agressões sofridas pela população de rua. “Nossa briga é por moradia, por trabalho, por saúde de qualidade, e não [se pode] culpabilizar as pessoas em situação de rua”.
Nazareh Cupertino, do MNDH e membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB SP, pediu aos secretários que analisassem com muito cuidado o relatório, pois mostra um quadro muito grave de flagrante violação de Direitos Humanos e fez questão de ressaltar a iniciativa da OAB SP. De acordo com ela,
“não há nenhuma solução para a população de rua que não seja feita com ela”.
O secretário da pasta da Habitação, João Siqueira de Farias, disse que está à disposição para o diálogo e que a discussão seguirá, para além do encontro de ontem. Ele apresentou alguns projetos em andamento e outros programas a serem lançados e frisou a importância do espaço de pluralidade, e de propósitos em comum, aberto pela OAB SP. “Podemos ter divergências ideológicas e políticas que são naturais e fazem parte da democracia, mas temos um objetivo em comum: queremos diminuir a diferença social em São Paulo e produzir mais políticas voltadas para a população que mais precisa”.
O secretário Bezerra, de Assistência e Desenvolvimento Social do município de São Paulo, disse que está em contato constante com as pessoas em situação de rua, por meio de uma escuta direta. A Secretaria antecipou o Censo da População de Rua em dois anos para uma radiografia mais precisa e para sintonizar da maneira mais próxima a qualidade das políticas que oferecem. Ele encerrou sua fala reiterando que a Secretaria e a prefeitura não vão aceitar violação de direitos humanos.
Claudio Cardoso, membro da Comissão, trouxe à tona o problema da violência dos agentes de segurança pública e pediu um posicionamento dos representantes da Guarda Civil Metropolitana (GCM). Regina de Souza, coordenadora da Secretaria de Segurança Urbana, disse que não compactua com a violência e que pretende trabalhar em conjunto com a Comissão de Direitos Humanos na formação da guarda. Ela também convidou a Ordem para conhecer os processos na Corregedoria da GCM.
“Esse relatório é um presente para a Secretaria. Vamos levar para a Secretária, que se coloca à disposição de todos. Temos que nos debruçar nos problemas enquanto gestão pública”, declarou.
O inspetor Queiroz também reiterou a participação da segurança urbana na construção de projetos de melhorias e sugeriu a presença da Secretaria das subprefeituras, uma vez que é um ator apoiado pela GCM nas ações de zeladoria. A sugestão foi muito bem recebida pela OAB SP, que incluirá essa Secretaria para os próximos encontros sobre o tema.
Priscila Beltrame lembrou da ótima receptividade que a OAB SP teve da secretária municipal de Segurança Urbana, Elza de Souza, que participou de um evento com a presidente Patricia Vanzolini e ficou muito tocada pela sua força, liderança e compromisso. Na ocasião, Elza sugeriu a presença da CDH em cursos de formação da ouvidoria.
Rildo Marques, coordenador do Núcleo de Movimentos Sociais e da População em Situação de Rua da CDH OAB SP, salientou que a entidade seguirá acompanhando os desdobramentos da reunião.
“A missão da OAB é impulsionar e fortalecer os sistemas de garantia e defesa e proteção dos direitos humanos, para que todos sejam responsáveis”. finalizou.
- Leonardo Sica
- Marcos dos Santos Queiroz
- Darcy da Silva Costa
- Claudio Cardoso
- Alexandra Rodrigues
- Priscila Beltrame
- Décio Fernando de Matos
- Gisele Cacherik
- Allderon Pereira da Costa
- João Siqueira de Farias
- Carlos Bezerra Jr.
- Da esquerda para direita: Claudio Cardoso, Rildo Marques, João Paulo, Robson de Mendonça, Marcos dos Santos Queiroz, Regina de Souza, João Siqueira de Farias, Carlos Bezerra Jr., Gisele Cacherik, Priscila Beltrame, Alexandra Rodrigues, Décio de Matos, e Darcy Costa