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Mulheres advogadas se destacam como líderes na luta pela igualdade de gênero

By 11 de março de 2024março 12th, 2024No Comments

No Mês da Mulher, três advogadas da OAB SP contam suas histórias de protagonismo e relatam as dificuldades de lideranças femininas no universo do direito

A presença das mulheres na advocacia é uma pauta relevante e que tem sido cada vez mais discutida. De acordo com dados recentes divulgados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), as advogadas compõem mais de 51% do total de inscritos no país, ultrapassando a presença masculina. Apesar dessa representatividade numérica, esse índice ainda não se reflete nos cargos de liderança e as mulheres ainda enfrentam desafios em diferentes etapas de suas carreiras.

O caminho para mudar este cenário é considerado árduo, mas ações efetivas já vêm alterando o rumo da história. A atuação de mulheres advogadas na luta pela paridade de gênero e por protagonismo na advocacia é um feito marcante na OAB SP, seja na Secional, seja nas Subseções de todo o Estado. Sobram exemplos de mulheres guerreiras e que não medem esforços para conquistar os seus merecidos espaços.

Em homenagem ao Mês das Mulheres, três advogadas da Ordem paulista, exemplos de luta pelos direitos das mulheres, recordam os caminhos e os desafios ao assumir um papel de liderança feminina. Apesar de estarem em regiões diferentes do Estado, estas três têm muita coisa em comum, em especial a determinação em romper barreiras e construir um futuro de igualdade.

Primeira mulher presidente da OAB São Vicente

Em 2022, de forma inesperada, a advogada Josiane Cristina Silva encarou um dos maiores desafios de sua vida. Eleita vice-presidente na chapa vencedora das eleições da OAB São Vicente, ela teve que assumir a presidência no quinto mês de gestão, em razão do falecimento do grande amigo e então presidente da Subseção, Eduardo Kliman. Diante daquele momento de tristeza e luto, a advogada precisou ser forte para fazer parte da história e se tornar a primeira mulher presidente em 52 anos da Subseção de São Vicente.

Relembrando o momento difícil ao perder um amigo tão próximo, Josiane recorda também que precisou superar barreiras logo nos primeiros dias na presidência.

“Substituir o Eduardo durante a gestão trouxe uma certa resistência, seja por ser a primeira mulher a presidir a Subseção, seja por termos uma diretoria composta por três mulheres (a diretoria executiva conta ainda com a secretária-geral Marystella Ferreira e a tesoureira Graziele Kliman) ou por conduzir a gestão de forma bem diferente em relação ao Eduardo”, lembra Silva.

Contando com o apoio da família, amigos e diretoria da Subseção, a nova presidente começou então a implantar sua maneira de trabalhar. “Não tem como não diferenciar a gestão do Eduardo da gestão da Josiane, mesmo com projetos e ideias previamente combinadas em conjunto. Tanta inovação causou rumores e desconforto para alguns colegas. Porém, isso não me intimidou. Muito pelo contrário, foi o combustível para que buscássemos trabalhar e provar que a primeira mulher presidente desta Subseção tem competência e dedicação tanto quanto os presidentes que me antecederam.”

Entre as ações voltadas para as mulheres, ela destaca  o projeto “OAB por Elas”, que atende vítimas de violência doméstica e de gênero. A ação conta com atendimento de advogadas voluntárias que foram capacitadas para essa função. “O principal legado que desejo deixar como primeira presidente mulher da Subseção de São Vicente é provar que nós, mulheres, podemos alcançar todos os espaços e lideranças que quisermos. Com trabalho, ética e dedicação, somos capazes de atuar em qualquer posição na sociedade.”

Pioneira em tradicional clube de Campinas

Conselheira da OAB SP, Lucimara Ferreira é reconhecida como uma defensora das causas de equidade de gênero e igualdade racial no meio da advocacia. Porém, não é só no meio jurídico que ela se destaca por seu espírito de luta e de liderança. No mundo da bola, ela quebrou um tabu e se tornou a primeira mulher negra a integrar a diretoria executiva na história de 123 anos da Ponte Preta, tradicional clube de Campinas e do futebol brasileiro.

Lucimara foi nomeada para o cargo em janeiro de 2022. “Inicialmente, fiquei surpresa em saber que tenha levado tantos anos para que isso ocorresse em um clube tido como a primeira Democracia Racial do Futebol. Que bom que foi comigo. Ser a primeira, enquanto mulher e negra, em qualquer espaço já é um desafio. Sendo em um clube de futebol de tradição, é dobrado.” Ela é também a segunda mulher a ocupar uma cadeira na diretoria executiva.

E sua participação na gestão da Ponte Preta será ainda mais significativa a partir de agora. Neste mês das Mulheres, ela vai assumir o comando da diretoria de Inclusão Social do clube.

“Estou honrada e agradecida pela indicação do presidente da Ponte, Marco Antônio Eberlin. O futebol precisa ser inclusivo, o poder social que ele possui precisa ser aplicado efetivamente”, comemora. “Ser uma mulher dentro de uma diretoria de Inclusão Social, se torna ainda mais relevante, porque tem dores que somente a gente sente e compreende. Eu, por exemplo, tenho uma situação em casa. Sou mãe solo e enfrento diariamente as dificuldades e responsabilidade de criar a minha filha sozinha”, acrescenta.

Sobre a luta pela igualdade de gênero, a conselheira reforça que é necessário intensificar as ações para ampliar os espaços das mulheres na advocacia. “É importante que as advogadas tenham suporte da instituição. Muitas advogadas não acreditam no seu potencial e isso é fruto também advindo de um preconceito de gênero. Não existe uma fórmula rápida e milagrosa nessa luta, o que tem que haver é a vontade de mudar e que essa mudança seja sistemática.”

A força da advocacia feminina em Presidente Prudente

A força da advocacia feminina também está presente na OAB Presidente Prudente. Como em outras Subseções do Estado, as mulheres são maioria e ocupam três dos cinco cargos da diretoria executiva. Ao lado da vice-presidente Deborah Zola e da secretária-adjunta Larissa Costa, a secretária-geral Viviane Segatto é personagem atuante na defesa dos direitos das mulheres, igualdade racial, entre outras frentes importantes.

Mulher negra, ela destaca que tem dois desafios cruciais para enfrentar: o machismo e o racismo. “O machismo no ambiente jurídico, que já foi mais presente e marcante, ainda existe e não permite que todas tenham acesso a ambientes que não deveriam ter segregações”, explica.

“O racismo ainda complementa os desafios que enfrento, pois, ainda hoje, de algumas formas veladas, ou nem tanto, as pessoas acham que uma negra é incapaz de ocupar um local de destaque, pelas suas histórias, méritos e desempenho. Mas não me deixo desanimar,  pois, em tantos anos na advocacia, ver que atualmente em nossa diretoria temos três mulheres, sendo duas negras, é motivo de orgulho e de que estamos alcançando um lugar de destaque, não sem luta”, conclui.

A secretária-geral também cita o projeto “OAB Por Elas”, implantado em Presidente Prudente nos mesmos moldes da OAB São Vicente, como uma ação importante da Subseção. “Embora ainda esteja no começo, estamos cada vez mais ligadas à necessidade de ampliar e expandir esse projeto para os bairros e pequenas localidades da nossa Subseção”, projeta.

Membro das comissões da Mulher Advogada; Direitos Humanos; Igualdade Racial e de Defesa a Vítima de Violência Doméstica e Sexual da Subseção, Viviane Segatto ressalta que as mulheres “estão ocupando os espaços que antes lhes eram negados, quiçá sugeridos, e criando novas possibilidades dentro deles.” Ela acrescenta que a OAB Presidente Prudente tem um olhar muito atento para as mulheres advogadas. “Atualmente, temos 51 comissões temáticas, sendo que a maioria delas são lideradas por mulheres. Isso sempre foi uma das nossas prioridades, pois entendemos que, mais do que somente cumprir a determinação, temos mulheres competentes que não tinham a visibilidade necessária.”