Congresso Women in Fintech reuniu nomes importantes dos mercados de tech, negócios e investimentos para além do universo jurídico
“As mulheres com maior sucesso que eu conheço conquistaram seus lugares à mesa usando ao seu favor as próprias dores. Afinal, crédito é uma questão de provocação e insistência para nós.” O depoimento é de Mellissa Penteado, CEO e fundadora da proScore Tecnologia, feito durante a primeira edição do Congresso Women in Fintech, realizada nesta quinta-feira (14) pela Ordem dos Advogados do Brasil Seção São Paulo (OAB SP).
Com participação gratuita, o evento foi coordenado pela Comissão de Tecnologia e Inovações da OAB SP, em comemoração ao Mês das Mulheres. Foram oito painéis de debate totalmente voltados para os mercados de tech, negócios e investimentos, com mais de oito horas de conteúdo e sob o olhar majoritariamente feminino de líderes renomadas.
Grandes nomes do setor – e não apenas focados na atuação jurídica – compuseram a lista de palestrantes do encontro, como Fernanda Ogata, Tax Planning Manager na 99, Nathalia Brandão, Head of Legal da Hotmart, e Diego Barreto, VP de Finanças e Estratégia do iFood.
A dificuldade existente no âmbito da liberação de crédito para mulheres à frente do próprio negócio, ainda cultivado por grandes instituições financeiras, e o letramento da tecnologia em pequenas operações foram destaques nos primeiros painéis do encontro, intitulados “Do Open Finance ao Open Health” e “Custo do Crédito e Inclusão Financeira”.
“Na pandemia, tivemos uma grande inclusão da tecnologia por questões sanitárias, mas hoje enfrentamos dificuldades com isso. E o motivo é o letramento da tecnologia. Nós lidamos diariamente com clientes que ainda não confiam na internet, no sigilo dos aplicativos bancários etc. Então, nós precisamos debater sobre a tecnologia e suas inovações, mas não devemos esquecer da educação de inclusão dessas novidades”, acrescentou Fabiana Arruda, COO da Iriom.
Inovações e o desafio das regulações
Tokens e as representações digitais de ativos tecnológicos, responsáveis por inovar bens e serviços on-line atualmente, também foram tema de debate no 1º Congresso Women in Fintech da OAB SP.
Durante o painel “Drex, Tokenização e Novos Negócios”, que abordou, ainda, na pessoa de Letícia Becker, Legal Counsel – Brazil & LatAm na Wise, questões relacionadas ao mercado de câmbio e os entraves de suas regulações, a advogada Renata Cardoso destacou: “Precisamos fazer esse instrumento se tornar também um gerador de valor para que o mercado evolua e os investidores reconheçam a estrutura segura e regulamentada que estamos criando”.
Já no painel “Compliance e Fintechs”, o foco da discussão foi dividido em duas frentes: explicar em detalhes os riscos penais de natureza jurídica de algumas fintechs e lavagem de dinheiro.
“Falar sobre fintech é falar sobre um mecanismo descomplicado, que promove a inclusão financeira e digital. Porém, precisamos ter em mente que, apesar de não representar um setor novo, esse novo formato de negócio pode ser utilizado de forma errônea por pessoas de má-fé”, alertou a advogada Illana Martins Luz. “E é aí que entra a lavagem de dinheiro. Temos um sistema financeiro extremamente regulado no Brasil, então precisamos que as novas tecnologias – como as fintechs – sejam igualmente regulamentadas”, concluiu.
Reforma tributária
Ainda em tom especulativo, a banca de palestrantes do painel “Reforma Tributária e Fintechs” trouxe à tona um assunto bastante atual e aberto para análises, que são as interpretações em torno da reforma tributária e suas aplicações na prática.
Primeira a falar, Nathalia Brandão, Head of Legal da Hotmart, pontuou: o momento é de observação e preparo. “Existem desafios para todos os setores, mas, falando especificamente das fintechs na reforma, o primeiro alerta que acende é: será que, na reforma do IR, vão querer adotar os mesmos conceitos de serviço financeiro para fins de majoração da alíquota? Isso determina como organiza-se o negócio e para onde vamos caminhar”.
“Ninguém está olhando para o setor de fintechs. Então, se não estruturarmos um texto e colocarmos voz nesse produto, dizendo qual a melhor regulamentação para o setor, não vamos conseguir operar sem inseguranças jurídicas relacionadas aos tributos, mesmo que a resposta não venha da forma que a gente espera”, completou Hadassah Santana, professora doutora da Fundação Getulio Vargas.
Para finalizar a noite, os últimos dois painéis do congresso falaram sobre o tema central em torno de produtos financeiros digitais, como as fintechs: inovação. Os desafios vivenciados por mulheres que se dedicam a startups e modelos de novos negócios, ainda com muitos caminhos para serem abertos e barreiras para serem criadas, norteou o bate-papo final.
“O primeiro desafio para nós é o desafio interno. A gente vem passando por um processo, com base na história da sociedade, muito recente. Por isso, acredito que saber do nosso lugar, da nossa capacidade e da nossa importância é necessário. Só assim vamos conseguir encarar as políticas públicas, nas áreas de tecnologia, financeira, tributária etc, e participar das tomadas de decisão em áreas predominantemente masculinizadas ainda nos dias de hoje”, disse Thaís Borges, Partner Chief Commercial Officer na Systax- Angel Investor & Mentor.