O primeiro caso de Aids foi identificado em 1981. Até 1996, quando a terapia antirretroviral começou a ser aplicada, contrair HIV equivalia a receber sentença de morte. Hoje, não mais. Mas o êxito dos novos tratamentos não pode significar descuido ou desatenção com a doença: a Aids ainda mata, e muito. O melhor recado continua sendo: previna-se.
A mensagem contendo a importância dos cuidados preventivos e do diagnostico precoce, bem como da superação de preconceitos e estigmas, é rediviva neste 1º de dezembro, Dia Mundial de Luta contra a Aids, efeméride instituída em 1988 pelo Programa Conjunto nas Nações Unidas sobre HIV/Aids – Unaids.
“Hoje, temos tratamentos muito efetivos, que impedem a progressão da doença, mas isso é alcançado quando o paciente é diagnosticado precocemente. Nós ainda temos muitos óbitos relacionados com o HIV, porque o diagnóstico é tardio. As pessoas não testam e chegam ao médico numa situação muitas vezes irremediável, já com infecções associadas muito graves”, explica o médico infectologista Rodrigo Juliano Molina, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia.
“Temos atualmente uma população que desconhece o HIV, que não viu pessoas morrerem de Aids e que não tem medo. É claro que isso vai impactar na prevenção, tanto que nós percebemos um aumento muito grande do número de casos de outras infecções sexualmente transmissíveis”, adverte Molina, que é professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Triângulo Mineiro.
Segundo a Unaids, em 2019 havia 38 milhões de pessoas vivendo com HIV no mundo, das quais 81% tinham conhecimento do seu estado sorológico positivo. Ou seja, 7,1 milhões de pessoas não sabiam estar contaminadas. No mesmo ano, 25 milhões de soropositivos tiveram acesso a tratamento antirretroviral.
Molina destaca a grande evolução no Brasil, nos últimos anos, dos procedimentos profiláticos pré-exposição ao vírus, os chamados Preps. “Os pacientes que têm o diagnóstico cedo e se submetem ao tratamento correto dificilmente virão a óbito decorrente do HIV”, assegura. E lembra que o Programa de Aids brasileiro é modelo para o mundo inteiro: “Nosso programa ainda está na vanguarda de tratamento e profilaxia. No Brasil, o tratamento é universal, totalmente disponibilizado pelo SUS, tanto que as drogas disponíveis não são passíveis de compra em farmácia, a não ser que o paciente queira alguma medicação importada”.
O ideal, está claro, é que as pessoas adotem os cuidados preventivos amplamente disseminados, como usar preservativo durante o ato sexual. “O Prep não está aí para liberar o sexo sem camisinha, principalmente porque o programa profilático dá segurança contra o HIV, mas não contra outras doenças sexualmente transmissíveis”.
De outra parte, Aids e Covid-19 não são indissociáveis. O novo coronavírus prejudica bastante o combate ao HIV, conforme informou a Unaids: os lockdowns e os fechamentos de fronteiras impactaram tanto a produção quando a distribuição de medicamentos, acarretando aumento de custos e desabastecimento. Eis um trecho de relatório disponível no site da Unaids: “Modelagens estatísticas estimam que uma interrupção completa de seis meses no tratamento do HIV pode levar a mais de 500 mil mortes adicionais por doenças relacionadas à Aids”.