Movimento em prol de Cristiane Alves Palmeiras, realizado nesta quinta-feira (25), reuniu centenas de advogados
“Eu aprendi a resistir pelos meus pais, pela periferia e por aqueles que precisam lutar diariamente para receber o mínimo de respeito”. Foi assim que a advogada Cristiane Alves Palmeiras, que foi agredida por seis policiais militares na semana passada, em Barretos, encerrou o seu discurso nesta quinta-feira (25), durante ato promovido em praça pública pela OAB SP, Subseção de Barretos e a Comissão de Prerrogativas da Secional, em favor das prerrogativas da advocacia.
O encontro, realizado na praça Francisco Barreto, no Centro da cidade, reuniu centenas de advogados, munícipes e apoiadores da causa, e contou, também, com a presença de parte da diretoria da Ordem paulista.
Patricia Vanzolini, presidente da Secional, abriu o evento destacando a política de tolerância zero e reação imediata contra a violação de prerrogativas, devidamente cumprida pela Comissão de Prerrogativas da Capital no último dia 17, quando o fato aconteceu, e a importância da união da classe.
“Estamos aqui não apenas para promover um ato de solidariedade, mas para deixar claro que vamos atuar na esfera administrativa interna, por meio do desagravo; externa, com a corregedoria da Polícia Militar; e também na esfera criminal, acompanhando o inquérito policial. E tudo isso só está sendo possível porque a Subseção agiu prontamente na defesa da doutora Cristiane. De uma vez por todas, atentados como esse não podem mais acontecer”, repudia Vanzolini.
A presidente da OAB Barretos, Arany Priolli L’apiccirella, também reforçou o compromisso de se manter vigilante às dores da profissão. “Nós respeitamos todas as instituições, mas não vamos tolerar abuso nenhum. Por isso, reforço a todos os colegas advogados e advogadas: nós, enquanto Ordem dos Advogados do Brasil, estamos à disposição de todos vocês e vamos defender os nossos direitos integralmente”, destacou.
Resistência
Para reforçar o apoio da OAB SP às agressões físicas e verbais sofridas pela advogada de Barretos, Luiz Fernando Pacheco, presidente da Comissão de Direitos e Prerrogativas da Secional; Dione Almeida, e Alexandre Domingues de Sá, secretária-geral adjunta e tesoureiro da OAB SP, também estiveram presentes no ato de apoio à Cristiane Alves Palmeiras.
“Eu, enquanto homem branco, me sinto envergonhado e quero lamentar esse fato absurdo. É inaceitável o que ocorreu nesta cidade contra a doutora Cristiane. E destaco: as prerrogativas que nós temos não são nenhum favor legal. É a nossa maneira de bem poder exercer a nossa profissão. Então, estamos aqui para dar um recado a esses violadores, pois não vamos deixar que os mesmos saiam impunes dessa vergonha”, completa Pacheco.
“Além de todo o absurdo que envolve as agressões a uma advogada mulher, também precisamos ter em mente as dificuldades da mulher negra. Os nossos corpos são atravessados todos os dias e eu não preciso perder uma hora para falar sobre racismo e machismo, porque experimentamos isso na pele todos os dias. Por isso, eu digo: parem de violar as nossas prerrogativas, porque todas as vezes que uma advogada negra passa por isso, todas nós sofremos junto”, enfatiza Dione.
Já Alexandre Domingues de Sá completou: “Estar presente aqui, entre membros da diretoria, presidentes de Subseções, conselheiros e afins, mostra que a OAB é uma só. Essa união fortalece a defesa das nossas prerrogativas e mostra que, quando um advogado se sente violado, toda a advocacia se enfraquece. E, da mesma forma, quando um advogado é defendido, como fizemos neste ato, toda a advocacia cresce e se fortalece”.
Em resposta ao apoio, a advogada agredida Cristiane Alves Palmeiras afirmou que continuará lutando pelo direito de ser e estar. “Eu já presenciei muitos atos de injustiça e sei como dói ser injustiçada. Por isso, me tornei advogada. E, também por isso, vou lutar para que a data do dia 17 se torne um marco não só para mim, mas para toda a sociedade de Barretos, pois nós, pessoas pretas, também somos merecedoras de respeito e apoio. Continuarei atuando na área criminal, mesmo com todos os desafios e adversidades, para mostrar que somos resistência”, finalizou a advogada.
Fotos Jânio Munhoz
Entenda o caso
A agressão relatada por Cristiane ocorreu no bairro Derby Club, em Barretos. Acionada por um sobrinho que afirmava ter tido sua casa invadida por seis policiais militares sem mandado judicial e que dizia estar sob a mira do revólver de um deles quando fez a ligação, Cristiane Alves Palmeiras dirigiu-se imediatamente ao local.
Ao chegar, entretanto, a advogada teria sido impedida de entrar na casa, pois os policiais teriam desconfiado que ela fosse, de fato, advogada. A partir desse momento e diante da insistência da profissional, teriam ocorrido agressões verbais e físicas, resultando em luxações nos dois braços e em hematomas no tórax de Cristiane.
A advogada comunicou imediatamente a OAB Barretos e passou a contar com o apoio presencial da presidente da subseção, Arany L’Apiccirella; da vice-presidente, Priscila Sanches Salviano de Oliveira; do Coordenador da Comissão de Prerrogativas local, Gilberto Vicente Filho; e do secretário-adjunto da 7ª Subseção, Márcio Antônio Domingues. Todos eles acompanharam a advogada agredida até a delegacia de polícia e lá presenciaram os depoimentos.
A presidente da OAB SP, Patricia Vanzolini, foi contatada e mobilizou a Comissão de Prerrogativas da Secional, por meio de sua vice-presidente, Claudia Bernasconi. Claudia, por sua vez, mobilizou a Comissão de Prerrogativas da OAB regional. André Luiz Pipino, coordenador de Prerrogativas da 6ª Região da OAB São Paulo, foi à delegacia em Barretos acompanhar o caso.
Estiveram na delegacia, ainda, a advogada Luciana Ribeiro Pena Peghim, membro do Conselho de Participação de Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado de São Paulo; Josué Justino do Rio, conselheiro estadual da OAB SP e da 6ª Região; e Fabiano Reis de Carvalho, conselheiro estadual da OAB SP.
O caso foi registrado como abuso de autoridade e todos os advogados presentes demonstraram apoio à advogada Cristiane Alves Palmeiras.
