Projeto visa promover empreendedorismo jurídico e desenvolver pequenos escritórios de todo o estado
O advogado jundiaiense Diego Henrique França de Moraes, de 28 anos, estava ansioso quando encarou a estrada para o seu primeiro dia no programa da Aceleradora de Escritórios da OAB SP. Após três dias de imersão na sede da Ordem, no centro de São Paulo, vivenciando muita troca de conhecimento e experiências, ele se sente como “uma criança em um parque de diversões”. “Estou sorrindo de orelha a orelha, absorvendo todos os conteúdos. É um momento muito feliz da minha carreira”, diz.
Diego é um dos 30 participantes selecionados para o projeto inédito, lançado no final de 2023 e iniciado na última quinta-feira (4), com o objetivo de promover o empreendedorismo jurídico e fornecer ferramentas para potencializar o desenvolvimento dos escritórios de advocacia de pequeno porte do estado de São Paulo.
A programação da Aceleradora de Escritórios tem duração de três meses e contempla três módulos, um para cada mês. O módulo 1 aborda, como temática principal, a Cultura Empreendedora e é coordenado pelo Insper. Todo o programa será desenvolvido de maneira híbrida, com encontros presenciais – como a imersão inicial de três dias na OAB SP – e on-line.
Durante sua estadia em São Paulo, os “acelerados”, como são chamados os participantes do programa, cumpriram uma agenda intensa de aulas com especialistas do Insper, mentorias, visitas a escritórios, palestras e muito networking. “Meu objetivo é conhecer sistemas, conhecer processos e, principalmente, conhecer pessoas. Eu estou na aceleradora para me quebrar e me reconstruir. Já abri a cabeça pra isso. Eu busco contatos, aprendizagem… Tudo o que estou vendo aqui é alinhado ao que estou procurando para fazer o meu escritório realmente crescer”, afirma Moraes.
A advogada Ariany da Paixão Silva, de 30 anos, também ressalta o conteúdo programático da Aceleradora como fator determinante para sua inscrição no projeto. “É algo pioneiro. Decidi participar para me qualificar em assuntos relativos a empreendedorismo, que a gente não tem na faculdade. Na rotina da advocacia, no dia a dia, isso faz muita falta. A gente até consegue informações esparsas, mas a dificuldade maior é como aplicar. Sem dúvidas, esses conhecimentos me ajudarão a desenvolver meu escritório”, avalia.
A aula sobre estruturação de um plano de negócios ajudou Ariany a ter um entendimento melhor sobre sua própria empresa, voltada para o direito imobiliário. “Desenhar a estrutura facilitou muito a visualização do meu negócio, porque, às vezes, no operacional, eu não conseguia ter essa visão”, explica.
Todos os “acelerados” terão acesso a uma plataforma de e-learning, com usabilidade para desktop e celular, com atividades on-line para colocar os aprendizados em prática. O avanço para o módulo seguinte depende da participação na etapa anterior. A expectativa futura de Ariany, ao fim do curso, é clara: “desenvolver minhas competências para conquistar mais clientes e melhores honorários”.
Oportunidades iguais
Com mais de 200 inscrições, os aprovados na Aceleradora de Escritórios foram escolhidos de forma a representar todas as 21 regiões administrativas da OAB SP. O edital incluiu critérios de paridade de gênero e raça.
Bárbara Jaqueline da Fonseca Valério, 39 anos, uma das profissionais selecionadas, vê com bons olhos a decisão de oferecer igual número de vagas para homens e mulheres, brancos e pardos/pretos. A participação na Aceleradora não é seu primeiro contato com a Ordem: Bárbara é presidente da Comissão de Equidade Racial na subseção de Jandira.
“Eu estou muito feliz porque a OAB está mostrando que seus projetos são para todos, independente de cor, de raça, de gênero. A diversidade enriquece o diálogo. A advocacia precisa ser inclusiva e a gente está vendo isso aqui”, comenta. Em relação à programação imersiva em São Paulo, Bárbara conta que aproveitou muito a apresentação sobre as ferramentas digitais para uso da advocacia, disponíveis no Marketplace de Lawtechs da OAB SP.
“Com certeza eu me vejo mais tecnológica agora. A gente viu ferramentas que podem otimizar o nosso tempo e fazer o serviço se tornar mais prático e efetivo. Hoje o advogado precisa acompanhar a inteligência artificial, entender que não é um inimigo. Ela é um aliado”, conclui.
Rotina e desafios de escritórios reais
Para além de palestras e workshops, os 30 participantes do projeto visitarão escritórios de diferentes especialidades e portes. O primeiro a receber o grupo foi o Filhorini Advogados, especializado em Direito Empresarial, fundado pela advogada Flavia Lepique – atual presidente da Comissão de Compliance da OAB SP.
A advogada contou aos “acelerados” como utilizou a experiência em grandes escritórios para empreender e fundar o seu negócio. Segundo ela, é preciso começar investindo apenas no essencial e avançar aos poucos. “Muita coisa tem que caminhar enquanto você ainda está se estruturando, como fazer um curso que está fazendo falta. Porém, não abrace o mundo, faça menos e bem feito. Uma má reputação leva anos para se reverter”, pontuou.
Flavia Lepique deu um último conselho aos novos empreendedores: independentemente do tamanho do escritório, é preciso pensar em um modelo estruturado de governança, fazer a gestão de risco e estar preparado para grandes imprevistos, como foi a pandemia.