O Abril Azul foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) como ação de conscientização sobre o autismo, ou Transtorno do Espectro Autista (TEA), pela nomenclatura médica. A iniciativa nunca foi tão oportuna: a onda de fake news alcançou esse transtorno neurológico, que, na pandemia da Covid-19, chegou a ser relacionado com efeitos colaterais de vacinas. No passado, já foi apontado como consequência de negligência materna.
“A falta de informação e de conhecimento, que antigamente poderia justificar avaliações equivocadas dessa patologia, gerou muitos mitos e medos. Porém, hoje em dia, temos muitos meios de comunicação de confiança, nos quais o estudo do autismo pode resultar em conhecimento adequado”, afirma a psiquiatra Luana Patrizia Gomes.
O autismo não tem cura e a pessoa nessa condição carece de um olhar correto da sociedade. O indivíduo com TEA nasceu com alterações na comunicação entre neurônios e em certos circuitos e sistemas neurológicos que não podem ser corrigidas. No entanto, como explica Luana, “devido à alta plasticidade neuronal na infância, o diagnóstico precoce, com os estímulos adequados, pode reduzir o impacto do transtorno na qualidade de vida do paciente”.
Os avanços científicos mais relevantes encontram-se justamente no diagnóstico, cada vez mais precoce, e na capacidade de se identificarem comorbidades associadas, como o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), que interferem na evolução favorável do quadro, se não forem tratadas adequadamente.
“O tratamento completo é composto por acompanhamento com psicoterapia, fonoaudiologia, fisioterapia, terapia ocupacional e pedagogia”, informa a psiquiatra.
Muita gente pensa que a pessoa com TEA possui, obrigatoriamente, algum talento excepcional. Não é bem assim. Na verdade, explica a especialista, “além da capacidade preservada em algumas áreas, autistas costumam ter apego a rotinas. Portanto, quando algum assunto lhes interessa, aprofundam-se intensamente, gerando conhecimento e habilidades extraordinárias nos temas escolhidos, com destaque, em muitos casos, para as artes e as ciências exatas”.
A legislação brasileira acolhe as pessoas com autismo, mas ainda há campo para evolução. A Lei 12764/2020 define corretamente o transtorno e afirma os direitos das pessoas com TEA, em termos de saúde, educação e ingresso no mercado de trabalho. Segundo Luana, contudo, “ainda aborda temas muito amplos e básicos, em relação aos direitos para com a sociedade”.
Paralelamente, a Lei 13977/2020, a chamada Lei Mion (em alusão ao filho do apresentador de televisão Marcos Mion, que se empenhou por sua aprovação), garante ao indivíduo com TEA atenção integral, pronto atendimento e prioridade em serviços públicos e privados nas áreas de saúde, educação e assistência social.
Leis, como se sabe, não bastam. O autismo precisa ser, de fato, conhecido em suas características pela sociedade. “A sociedade precisa procurar informação sobre o transtorno, mas, também, sobre o diagnóstico precoce. Quanto antes for diagnosticada a condição, menores serão as limitações da pessoa com TEA. A sociedade precisa compreendê-la e aceitar que suas capacidades são extraordinárias em vários campos, cada uma à sua maneira”, conclui Luana.