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Com a presença da OAB SP, ato inter-religioso em homenagem a Bruno e Dom e em defesa dos povos indígenas é realizado na Catedral da Sé

By 18 de julho de 2022No Comments

A OAB SP juntou-se à Frente Inter-religiosa Dom Paulo Evaristo Arns por Justiça e Paz, em parceria com a Comissão Justiça e Paz de SP, a Comissão Arns e o Instituto Vladimir Herzog, para promover o ato inter-religioso “Bruno e Dom presentes: em defesa dos povos indígenas do Brasil”, que foi celebrado na Catedral Metropolitana de São Paulo (Catedral da Sé), no último dia 16. O evento reuniu centenas de pessoas, entre representantes de diversas religiões, da sociedade civil, líderes indígenas e artistas, além da viúva de Dom Philips, Alessandra Sampaio, e da viúva de Bruno Pereira, Beatriz Matos, para pedir justiça, democracia e respeito aos direitos dos povos indígenas.

Estiveram presentes o vice-presidente da OAB SP, Leonardo Sica; a vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos, Priscila Beltrame; a presidente da Comissão de Política Criminal e Penitenciária, Marina Dias; a presidente da Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero, Heloisa Alves; e o Conselheiro Estadual Ezequias Alves da Silva.

Durante a cerimônia, foi lido o manifesto em defesa dos povos indígenas do Brasil e em homenagem a Bruno Pereira e Dom Philips, assinado pelas entidades organizadoras. A realização do ato na Catedral da Sé é simbólica, pois é o mesmo local em que ocorreu a celebração ecumênica pela memória do jornalista Vladimir Herzog em outubro de 1975, marco na luta da sociedade democrática contra a violência do Estado.

Abaixo, veja as fotos do evento e leia o manifesto na íntegra.

MANIFESTO EM DEFESA DOS POVOS INDÍGENAS DO BRASIL E EM HOMENAGEM A BRUNO PEREIRA E DOM PHILLIPS

Ao longo dos últimos meses e anos temos testemunhado o agravamento de uma crise que existe há séculos no país: a escalada da violência contra os povos indígenas. A invasão de suas terras e o avanço de atividades ilegais, a constante e efetiva retirada de direitos desses povos e a inexplicável lentidão em reconhecê-los, a ausência e negligência do Estado e o enfraquecimento dos órgãos de fiscalização nos colocam em uma conjuntura crítica, que exige resposta diante de uma evidente corrosão democrática.

As mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, numa emboscada na região da Vale do Javari que não os poupou da tortura, da execução e da mutilação de corpos, tornaram-se não sem motivo alvo da indignação internacional. Eles se somam a inúmeras outras pessoas que ofereceram suas vidas nessa luta, sendo essas muitas vezes interrompidas por crimes sequer investigados e que permanecem impunes. Referido contexto ganha significado também em razão da morte de Dom Cláudio Hummes, eternizado como o “Profeta da Amazônia”. O legado desses defensores de direitos humanos, na admiração e amor que demonstraram e na defesa intransigente dos povos indígenas, consistirá, sempre, em inspiração e norte para as próximas gerações.

Honrar a memória desses defensores de direitos humanos exige dar continuidade à sua bem-aventurada missão. Assim, devemos relatar e denunciar a violência que se impõem sobre esses povos, exigir que sejam tomadas as providências devidas para a sua proteção, e transformar todas as crenças e estruturas que dão espaço para a violência.

Esses não são crimes isolados. São o resultado de um sistema econômico e político que mata e desmata. Um sistema em que a ganância financeira se sobrepõe à vida; em que a pilhagem de recursos naturais é tolerada e incentivada; um sistema que promove arrogância e desconexão com a terra, com a água e com o ar que nos sustentam, e fazem da poluição o nosso habitat; e que silencia, torna invisível e desumaniza aqueles que se contrapõem ao seu funcionamento, tornando-os alvo fácil da violência. Ao longo dos séculos, argumentos políticos, econômicos e até mesmo religiosos foram utilizados em nossa sociedade para legitimar e sustentar essa visão de mundo. Basta! Não é este o futuro que queremos para o nosso país. 

Romper com essa visão exige reconhecer que os povos indígenas possuem um papel de liderança fundamental a cumprir. Suas vozes precisam ser ampliadas e seus saberes disseminados! Entre as culturas dos mais de 400 povos indígenas que existem no Brasil, reconhece-se que tudo que tem vida é valioso e é dotado de espírito; a diversidade é acolhida e celebrada; a coletividade é valorizada e a escuta é defendida como necessária; o humano e o não-humano não podem ser separados; a Terra é entendida como um só planeta e as fronteiras e divisões que criamos como ilusórias. 

Não podemos nos silenciar frente à destruição em curso! Não podemos abrir mão de um futuro livre da violência! Defendemos a integridade dos povos indígenas e de suas terras e nos unimos à sua elevada missão de reflorestar as mentes e corações e de construir uma sociedade próspera e segura para todas as pessoas.

Nós da Frente Inter-religiosa Dom Paulo Evaristo Arns por Justiça e Paz – representando católicos, anglicanos, metodistas, pentecostais, judeus, muçulmanos, bahá’ís, budistas, kardecistas, povos tradicionais de matrizes africanas e membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias – lançamos e assinamos este manifesto e convidamos a todas as organizações e pessoas a se juntarem a nós, desejosos que toda a sociedade brasileira aja em defesa dessa causa.

Diante desta realidade, a Frente Inter Religiosa Dom Paulo Evaristo Arns, a Comissão Justiça e Paz de São Paulo, a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns – Comissão Arns, o Instituto Vladimir Herzog e a OAB-SP juntam-se para promover o ato inter-religioso “Bruno e Dom presentes: em defesa dos povos indígenas do Brasil”, a ser celebrado na Catedral Metropolitana de São Paulo, no dia 16 de julho, das 10h às 11h30, local histórico e de consciência cuja sacralidade perdura imortalizada desde a celebração ecumênica pela memória do jornalista Vladimir Herzog ocorrida no mesmo espaço em outubro de 1975, hoje símbolo de luta da sociedade democrática contra a violência do Estado.